Fortaleza: fim da era Vojvoda e o enigma do novo técnico

No futebol, como na vida, chega uma hora em que até as histórias mais bonitas precisam acabar.

Às vezes, o conto de fadas termina antes do “felizes para sempre”.

E é justamente essa a sensação que paira sobre os bastidores do Fortaleza Esporte Clube após o encerramento do ciclo de Juan Pablo Vojvoda.

Para muitos, o treinador argentino transformou o Tricolor do Pici em protagonista nacional.

Mas que agora, ironicamente, saiu pela porta dos fundos, sob vaias discretas e aplausos emocionados.

Se o futebol é uma novela eterna, o capítulo atual do Fortaleza é daqueles recheados de drama, personagens carismáticos, despedidas melancólicas e uma dúvida crucial:

Quem assume o papel principal no próximo episódio?

O adeus do homem que virou símbolo

Vojvoda chegou ao Fortaleza em maio de 2021 como quem entra em um apartamento alugado com vontade de fazer reforma. E reformou mesmo.

Taticamente, emocionalmente, estruturalmente.

Fez o time sonhar alto, disputar Libertadores, bater de frente com gigantes, faturar títulos e, mais importante, ganhar respeito nacional.

Durante seu reinado:

  • 310 jogos
  • 145 vitórias
  • 77 empates
  • 88 derrotas
  • 3 títulos estaduais (2021, 2022 e 2023)
  • 2 Copas do Nordeste (2022 e 2024)
  • Vice da Copa Sul-Americana (2023)
  • Semifinal da Copa do Brasil (2021)
  • Três classificações para a Libertadores (2022, 2023 e 2025)
  • Duas campanhas no G-4 do Brasileirão (2021 e 2024)

Mas como todo sofá que um dia foi o centro da sala, chega uma hora em que começa a incomodar.

Rasga aqui, range ali, e de repente a presença vira um incômodo.

Foi isso que aconteceu com Vojvoda.

De símbolo máximo de identidade e orgulho, virou sinônimo de desgaste, comodismo e teimosia.

O estopim foi uma sequência tenebrosa de 9 partidas sem vitória, sendo 6 derrotas consecutivas, culminando na derrota para o maior rival, o Ceará, pelo Brasileirão.

A torcida, ainda que grata, perdeu a paciência.

A diretoria, hesitante, agiu.

E no dia 14 de julho, o clube anunciou oficialmente a saída do técnico mais vitorioso da sua história.

Entre lágrimas e despedidas

O Pici virou palco de comoção.

A sede do clube foi aberta para que os torcedores se despedissem.

Vojvoda, visivelmente emocionado, chorou ao pisar no gramado pela última vez.

Disse palavras comoventes sobre a necessidade de união e desejou sorte ao próximo treinador.

Uma multidão agradeceu, pediu que ele ficasse e registrou aquele momento com selfies e autógrafos.

Além disso, uma carta aberta publicada pelo clube selou a despedida oficial.

Sua partida da capital cearense está marcada para o sábado, dia 19 de julho, após resolver pendências pessoais.

Antes disso, teve despedida interna com elenco e funcionários, onde foi novamente homenageado.

E agora, quem segura a prancheta?

Com a saída de Vojvoda, a pergunta de um milhão de reais tomou conta dos bastidores e das redes sociais: quem será o novo técnico do Fortaleza?

A escolha não é trivial.

O clube vive um momento delicado — está na zona de rebaixamento do Brasileirão, eliminado da Copa do Nordeste, e com desempenho apagado na Libertadores.

Acertar no nome é essencial para evitar o desmanche de uma reputação construída com suor.

Veja os nomes cogitados e o que dizem sobre eles:

Ramón Díaz: o livramento

Ramón Díaz, técnico argentino com passagens por clubes tradicionais, chegou a ser cogitado, mas acabou contratado pelo Olimpia. Para muitos torcedores, foi um alívio.

  • É como aquele tio que só aparece no churrasco pra contar piadas velhas.
  • Estilo ultrapassado, defensivo e sem repertório moderno.
  • Teria sido um retrocesso disfarçado de experiência.

Tite: caro, cansado e indisponível

O ex-técnico da seleção brasileira também entrou no radar, mas recusou. E talvez tenha sido melhor assim.

  • Pedido salarial: R$ 3 milhões/mês
  • Desempenho recente no Flamengo foi abaixo do esperado

Não havia clima — nem verba — para essa aposta.

Thiago Carpini: técnico de Série B?

Para alguns críticos:

  • Carpini é técnico de reconstrução, não de projeção.
  • Fez bom trabalho em clubes como o Juventude, mas não tem histórico de grandes conquistas.
  • Seria, segundo ele, como voltar ao status pré-2021 — algo que o clube lutou muito para deixar para trás.

Luis Zubeldía: o pensador calado

Entre os cotados, Luis Zubeldía é o nome que mais agrada aos analistas.

  • Perfil tático semelhante ao de Vojvoda, mas com mais estrutura e profundidade.
  • Valoriza as categorias de base, dando chance por mérito, não apenas por idade.
  • Tem leitura tática avançada, mas peca na comunicação.

O problema? Zubeldía é um técnico introspectivo. Fala pouco, se expõe menos ainda.

Pode soar arrogante ou indiferente, quando na verdade está apenas refletindo.

Em um clube onde a relação com a torcida é visceral, isso pode gerar ruído — principalmente se os resultados demorarem a vir.

O futuro em jogo

Assim, o Fortaleza vive hoje um daqueles momentos que definem décadas.

A saída de Vojvoda é mais do que uma troca de comando: é um convite à reinvenção.

O clube precisa decidir se vai continuar sendo um modelo de ousadia e inovação, ou se vai se contentar com fórmulas prontas e soluções paliativas.

Desafios imediatos:

  • Escolher um treinador com identidade moderna
  • Manter o elenco motivado em meio à turbulência
  • Recuperar o desempenho no Brasileirão para evitar o rebaixamento
  • Preservar a imagem institucional de clube organizado e respeitado

Pontos de atenção:

  • Cuidado com nomes “famosos” que vivem de passado
  • Equilíbrio entre ousadia e planejamento
  • Fortalecer a base e o departamento de análise para dar suporte ao novo técnico

A novela continua (e pode virar drama ou redenção)

Portanto, o Fortaleza tem a chance de mostrar maturidade institucional: agradecer o passado, respeitar o presente e planejar o futuro com coragem.

Não é hora de pânico, mas de estratégia. Porque em tempos de incerteza, até os heróis precisam passar a faixa.

A torcida, como sempre, vai cobrar, apoiar, reclamar e aplaudir.

Mas no fundo, tudo o que o torcedor quer é ver o Fortaleza onde ele merece estar: competindo, crescendo e surpreendendo.

E enquanto o novo técnico não chega, o roteiro segue aberto. Que venha o próximo capítulo.

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